“As universidades precisam se apropriar dos Indicadores”, afirma Lucimar Dias, professora da UFMS que usou os materiais na formação de estudantes de pedagogia

Em 2010, experiência realizada na graduação estimulou adoção da metodologia pela Secretaria de Educação em todos os CEIs (Centro de Ensino Infantil) do município de Três Lagoas, em MS 

Há três anos, venho usando os Indicadores em minhas aulas. Em 2009, participei do Grupo Técnico de Discussão e formulação dos Indicadores da Qualidade na Educação Infantil. Após sua finalização e disponibilização on-line, no ano seguinte, decidi adotá-lo para a formação da minha turma de estudantes de Pedagogia, da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul).

À época, na universidade nós tínhamos uma disciplina chamada Seminários Integrados – hoje extinta. Nela, o professor trabalhava algumas temáticas que considerava mais importante naquele momento, usando um conteúdo que poderia variar.

Além disso, de lá para cá, eu também tenho usado os Indicadores numa disciplina chamada Infância e Adolescência, quando a temática envolve política da educação infantil. Porém, nesse caso de uma forma bem menos intensa que na primeira.

Eu acho fundamental que os alunos, durante o processo de formação, tenham um parâmetro do que é a qualidade. Na discussão da infância, eles já haviam tido conceitos sobre análise do currículo pedagógico, da política da educação infantil, entre outros.

Pronto os Indicadores, eu achei importante a aproximação dos alunos com o uso e a metodologia do material, observando cada uma das dimensões.

Na disciplina Seminários Integrados, num primeiro momento, toda a turma estudou todas as dimensões presentes no material. Como exercício eles precisavam fazer paralelos entre o material e o que haviam identificado no projeto pedagógico das escolas de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, onde foi realizado o trabalho que durou um semestre.

Eles também precisavam encontrar contradições e limites do material com a prática pedagógica, além de comparar o número de experiências que haviam tido, já que muitos estudantes já trabalhavam na rede de ensino.

Foi um momento interessante e importante na formação. Eles puderam refletir aspectos como a gestão democrática dentro da educação infantil, o uso dos materiais e a própria questão sobre igualdade racial.

Já numa segunda etapa, os estudantes se dividiram em seis grupos. Cada um ficou responsável por uma dimensão. O desafio foi propor aos colegas uma metodologia diferenciada daquela já proposta no documento, que parte das cores verde, vermelho e amarelo, chamadas pela turma de “semáforo”.

A partir desse exercício, grupos pensaram metodologias com mãozinhas aplaudindo ou figuras que simbolizavam “curtir” e “não curtir”. Já outros grupos apostaram em smiles – sorrisos, em inglês. A atividade surgiu como uma forma de fazê-los perceber outros modos de observar e responder a outras realidades propostas para além daquela dos Indicadores.

Já no terceiro e último momento, os grupos precisavam ir a campo com sua dimensão, para trabalhar em CEIs (Centro de Ensino Infantil) a metodologia estabelecida nos Indicadores, usando as estratégias que elaboraram e refletiram durante o projeto.

Ao decorrer desse processo de autoavaliação, os estudantes começaram a apresentar seus desafios e suas dificuldades. Primeiro, observaram que grande parte das instituições desconhecia, além de se sentirem receosos quanto à autoavaliação. Algumas, inclusive, solicitaram carta da universidade para que a atividade pudesse acontecer. Em seguida, se depararam com dificuldade em mobilizar os três segmentos, sobretudo as famílias.

Os estudantes propuseram o uso da metodologia nas unidades educacionais em parceria com a coordenação da escola. Pensaram ainda qual seria a melhor forma de mobilização: bilhete ou até mesmo ficar em frente à escola para se encontrar com pais e mães, e assim conversar com eles.

Outro aspecto também ligado à família foi a dificuldade de compressão do material.  Muitas delas tiveram dificuldades em compreender o que solicitava a dimensão, talvez devido à linguagem ou quando o assunto era formação dos professores. A maioria opinava sobre o espaço físico.

Uma das coisas que também chamou atenção foi o interesse da Secretaria de Educação, que embora já tivesse recebido o material, após a realização do trabalho dos estudantes, me procurou para saber mais sobre a experiência sistematizada em artigos escritos pelos grupos. Segundo eles, a ideia era analisar o material produzido, além de levá-los às seis unidades de ensino autoavaliadas. Em 2011, um ano depois da realização do trabalho na faculdade, a Secretaria adotou os Indicadores em todos os 15 CEIs do município.

Meu objetivo com os grupos era de que se apropriassem do material, para que adentrassem no debate da qualidade e avaliação, além de servir como instrumento de fortalecimento desses futuros professores, que precisavam reivindicar uma educação de qualidade.

Assim como os Indicadores, há inúmeros materiais interessantes, também produzidos de forma coletiva, pensado por pessoas de diferentes regiões. Os Indicadores têm esse caráter, rico, no sentido de traduzir a expectativa nacional de uma educação infantil de qualidade. Para permitir esse parâmetro de qualidade e possamos alcançá-lo, é preciso ainda que as universidades também se apropriem desses documentos.

 

*Lucimar Rosa Dias é professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Campus Três Lagoas). É doutora em Educação na Universidade de São Paulo, tem experiência em docência começou nas séries iniciais do ensino fundamental em redes públicas e privadas. Também realizou pesquisas e atividades de extensão enfatizam a diversidade étnico-racial e práticas promotoras da Igualdade Racial na Educação Infantil, formação de professores/ras e Currículo. 

 

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