Santo André realiza atividades com foco no combate ao racismo na escola

20 escolas do município aderiram ao uso dos Indicadores da Qualidade na Educação Relações Raciais para o monitoramento participativo do PME

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Representantes das escolas que aderiram ao uso do Indicadores da Qualidade na Educação Relações Raciais (Crédito: Stephanie Kim Abe/Ação Educativa)

 

Oficina de confecção de bonecas abayomis, visita ao Museu Afro Brasil (em São Paulo), confecção de máscaras africanas de papel machê, rodas de leitura com livros que abrangem a temática da diversidade (como Menina Bonita do Laço de Fita, Obax, Bruna e a Galinha d’Angola), pintura e representação de personagens e cultura africana, reuniões com vários segmentos da comunidade escolar e familiares. Essas são algumas das atividades que foram realizadas em 20 escolas municipais de Santo André nos últimos dois meses, com o intuito de valorizar a cultura negra africana e discutir a superação do racismo na Educação. Veja algumas das produções dos alunos na galeria de fotos no final da matéria.

As atividades descritas acima foram compartilhadas na última segunda-feira (dia 17), durante um seminário de intercâmbio realizado entre representantes das 20 escolas. Elas estão inseridas no contexto do uso da Coleção Educação e relações raciais: apostando na participação da comunidade escolar, que configura um dos eixos do projeto de Monitoramento Participativo do Plano de Educação de Santo André. A ideia é contribuir para a formação de profissionais da educação direcionada à superação do racismo e outras discriminações, promovendo a implementação da LDB alterada pela lei 10.639/03 e das metas 7 e 8 do Plano de Educação de Santo André (Lei municipal 367/2015).

“Trabalhar com a questão da cultura negra é superimportante. Mas esse trabalho deve ser feito concomitante a uma educação antirracista nas escolas e com o debate do currículo permanente, comprometido com a diversidade”, disse Denise Carreira, coordenadora da área de Educação da Ação Educativa, que assessora o projeto, durante o seminário.

 

Processo e continuidade

O trabalho com o tema das relações raciais na rede começou no primeiro semestre desse ano, e teve como etapas anteriores a formação de formadores, os encontros com o movimento negro local, as oficinas de formação de representantes das escolas e uma aula pública com o tema Educação e Relações Raciais. Enquanto algumas escolas já realizaram a autoavaliação participativa de algumas dimensões com a comunidade escolar, outras estão avançando na abordagem da temática.

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Reunião de guardiãs na creche Nancy Andreoli (Crédito: Eliane Chagas da Silva)

“Essa metodologia ajuda a gente a ter um grande estudo, um grande diagnóstico da escola sobre essa temática, nas diferentes dimensões que ela envolve: como a questão do currículo, da gestão democrática, da valorização do(a) professor(a). Isso dá pra gente muito subsídio. E é a partir deles que vamos fazer recomendações para o Projeto Político Pedagógico da escola e para política pública”, explica Claudia Bandeira, assessora da Ação Educativa.

Para que o uso desse material contribua com a avaliação e o monitoramento da política educacional, é preciso garantir: (1) a construção coletiva de um Plano de Ação nas escolas, (2) de um documento de recomendações para a política pública educacional e (3) a constituição de um Grupo Guardião que sustente os processos desencadeados pelo uso dos Indicadores Relações Raciais nas unidades educacionais e no munícipio.

“A partir da autoavaliação participativa, as escolas vão levantar os pontos em que precisam atuar, produzindo um plano de trabalho. É função do grupo guardião fazer com que esse documento seja executado”, explica Edneia Gonçalves, assessora da Ação Educativa.

Para Maria Cícera Pereira Lopes, servente geral da creche Nancy Andreoli, estar envolvida com a temática e disposta a fazer a lei sair do papel foi o que a motivou a se voluntariar para compor o grupo guardião da creche. “Eu optei por fazer parte desse grupo porque queria garantir que, mesmo que os responsáveis saiam da escola, esse trabalho continuasse aqui na creche”, diz. Ela destaca, entre as atividades feitas dentro da escola, as pinturas de rosto africanas e o turbante usados durante as comemorações dos aniversariantes do mês.

A creche, que tem cerca de 200 alunos e 60 funcionários, tem ainda no grupo guardião mães, agentes de desenvolvimento infantil e professoras. “Às vezes, não percebemos o racismo e o preconceito, então a criança acaba sendo uma porta voz. As brincadeiras, as conversas, as rodas de história feitas na escola surtem efeito em casa. Isso vem trazendo a comunidade para dentro da escola”, explica a profa. Lusia do Nascimento da Silva, também parte do grupo guardião da creche.

O próximo passo para esse processo é a realização de um seminário final, ainda este ano, com a participação de todas as 90 escolas da rede municipal de Santo André. Na ocasião, deve ser apresentado o documento de recomendações para políticas públicas. “A nossa expectativa é que essas ações tenham consequências, que criem raízes. Elas estão dentro da construção de um processo. Por isso o planejamento do ano que vem é estratégico: ele será uma proposta para que a nova gestão possa assumir como base essa metodologia”, explica Denise Carreira.

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Materiais da Coleção “Educação e relações raciais: apostando na participação da comunidade escolar” (Crédito: Stephanie Kim Abe/Ação Educativa)

 

Sobre a coleção

Coleção Educação e Relações Raciais: apostando na participação da comunidade escolar tem por objetivo contribuir para que as escolas desenvolvam um processo de autoavaliação participativa sobre a implementação da lei 10.639, ampliem a roda de pessoas e coletivos envolvidos com a superação do racismo e de outras discriminações e construam um plano de ação estratégica que gere transformações efetivas no cotidiano escolar.

A coleção é composta por cinco materiais: cartazes sobre afrobrasilidades (cabelos, arte e cultura, mulheres e meninas negras, resistências e movimentos sociais etc), publicação Indicadores de Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola, Guia Metodológico e dois vídeos. Eles podem ser utilizados de forma combinada ou separada em diversos momentos e espaços da vida escolar: em atividades pedagógicas em sala de aula, em processos de autoavaliação participativa, em horários de planejamento pedagógico e de formação de professores, em reuniões de pais, mães e familiares, em festas, reuniões do grêmio estudantil, nas atividades de pátio etc.

Saiba mais sobre a coleção aqui.

 

Galeria de fotos

Veja algumas das produções realizadas pelos alunos da rede municipal de Santo André:

 

Reportagem: Stephanie Kim Abe
Edição: Claudia Bandeira
Imagens da galeria: Stephanie Kim Abe/Ação Educativa

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